sustentabilidade

Comunidade escolar se une para cuidar de horta comunitária

Comunidade escolar se une para cuidar de horta comunitária

Foto: Pedro Piegas (Diário)

Alunos do 5º ano coletam água do sistema para regar a horta

Uma iniciativa que reúne aprendizado e sustentabilidade. Foi com esse objetivo que o Colégio Estadual Professora Edna May Cardoso, no Bairro Camobi, começou uma horta comunitária para cultivar alimentos, hortaliças e plantas medicinais, aromáticas e condimentares.

O local de plantação já era usado há mais de quinze anos pelos moradores da comunidade. A partir de 2018, junto com estas pessoas, na maioria idosos, professores e alunos da escola passaram a se envolver ativamente na horta. Já em 2021, mais uma novidade foi agregada ao espaço: um sistema de captação da água da chuva.

– A nossa horta, além de produzir alimentos ecológicos, também é capaz de criar água. Isso foi feito a partir da necessidade, da observação e do cuidado com a água, que está tão escassa – explica o diretor da escola, Alan Patrick Buzzatti.

Com o auxílio do Corpo de Bombeiros, foram instalados dois canos em pvc na quadra de esportes da escola. Na prática, em dias de chuva, a água escorre pelas telhas, é filtrada e chega até o reservatório (caixa d’água) por meio destes canos. Uma torneira, instalada junto à caixa d’água permite a coleta da água. A criação de todo o sistema foi possível em razão de doações.

– O sistema foi fundamental para manter viva a horta, não utilizando a água da Corsan nesse período, porque temos uma carência hídrica em função da falta da chuva e também temos a questão da pouca reflexão do uso da água – afirma o diretor.

A partir deste reaproveitamento já foi possível economizar cerca de 12 mil litros de água. De acordo com o diretor, os planos futuros incluem a ampliação do sistema, já que a quadra esportiva tem capacidade para instalação de até oito pontos de coleta de água. Para isso, também seria necessário mais um reservatório, já que a caixa d’água que a escola recebeu tem capacidade para 2 mil litros.

Sistema de captação da água foi instalado em 2021Foto: Pedro Piegas (Diário)

A escola trabalha em um levantamento que identifique a economia de água e aponte os principais benefícios do sistema. A partir disso, será possível obter recursos de órgãos educativos e ambientais da cidade ou do Estado, e realizar a ampliação do método de captação.

Outra perspectiva futura é criar um sistema de irrigação. De acordo com o diretor, isso facilitaria o trabalho dos professores, dos alunos e dos moradores da comunidade, que agora, regam a horta de forma manual.

Ecoalfabetização

Para o diretor da escola, o projeto é um dos caminhos para desenvolver o conceito da ecoalfabetização, que já faz parte da realidade das discussões das pesquisas acadêmicas, das cooperativas, dos agricultores e dos pais que praticam a agroecologia. Por sua vez, a horta permite que as crianças se aproximem desta realidade:

– O fato de trazer as crianças aqui e retomar esse contato com a terra, com os animais e com o conjunto da diversidade ambiental que temos e com a forma que nós produzimos, sem veneno, com o próprio adubo, nós criamos um processo de ensino compartilhado, reflexivo, com a transversalidade ambiental.

A estudante, Elisa Xavier, 10 anos, cuida da horta desde novembro do ano passado, e já conseguiu ver os benefícios da atividade:

– Eu gosto de plantar, ver alimentos novos e eu acho importante porque é saudável.

Quem frequenta o espaço todos os dias e já plantou morango e camomila foi o estudante Leonardo Ramiro Argenta, de 12 anos:

– Eu já aprendi várias coisas sobre as plantas e também sobre como melhorar uma horta.

Estudantes do 5º ano regam e limpam a hortaFoto: Pedro Piegas (Diário)

Para a engenheira florestal Macarena Santamarta, a horta foi um meio que encontrou de realizar o trabalho com extensão rural que fazia antes de vir para a cidade. Este também foi um dos motivos pelos quais ela matriculou sua filha, de 8 anos, na escola.

– É muito importante a gente fazer esse elo, com as pessoas que já fazem isso há muito tempo aqui, como os idosos e idosas que têm muito conhecimento para passar pra gente, assim como, com as crianças que estão na escola, principalmente porque muitas delas não tem vínculo com a zona rural. Então, a gente pode fazer isso com as crianças trabalhando educação ambiental, a curiosidade delas em vir aqui e saber da onde que vem os alimentos, como produzir, observar os ciclos, os animais, as estações do ano – comenta a engenheira.

Além de levar, durante o turno de ensino, alunos de séries iniciais para a horta, nos sábados sempre ocorre um mutirão na horta com demais pessoas que têm interesse em ajudar.

Destino da produção

Todos os alimentos produzidos na horta têm dois destinos: para a casa dos moradores da comunidade que plantam no local e para a residência dos estudantes do colégio.

– Os pais e alunos recebem quando tem excedente e, se não, no cotidiano as famílias que plantam aqui levam para suas casas. Essa é a possibilidade que temos de trazer a discussão sobre a importância de um alimento ecológico, livre de venenos, e também criar ou reforçar a cultura de utilizar na alimentação produtos saudáveis – relata Alan.

O diretor, Alan Patrick Buzzatti, com um dos cultivos da hortaFoto: Pedro Piegas (Diário)

Conforme o diretor, 386 alunos estão matriculados na escola atualmente. Com isso, são quase 400 famílias que já foram, direta ou indiretamente, beneficiadas com a produção.

Além de alimentos, com as plantas da horta também ocorre a produção de chás, xaropes e pomadas.

Fertilizante natural

Além de colher alimentos livres de agrotóxicos, o adubo que chega até a horta também é natural. Por meio da composteira instalada no colégio, foi possível destinar o lixo orgânico corretamente e gerar um fertilizante natural para as hortaliças e plantas.

Na escola é feita a vermicompostagem, no qual as minhocas são as responsáveis pela decomposição da matéria orgânica, como restos de alimentos. O resultado deste processo é o húmus, um líquido com vários nutrientes que, posteriormente, é utilizado na horta.

Geração de renda

Na escola, mães e professoras formam o Mulheres em Ação. De acordo com a farmacêutica e doutoranda em extensão rural pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Juliana de Almeida Costa, o grupo é um espaço de acolhimento e de diálogo sobre diferentes temas. Dentro disso foi que surgiu a ideia de gerar renda com a fabricação de sabonetes a partir das plantas medicinais da horta.

Até o momento, os produtos foram feitos e distribuídos para os pais e estudantes. Porém, o objetivo é comercializar os sabonetes artesanais e medicinais até o final do ano.

– (Com a saboaria) Trabalhamos essa questão dos conceitos biosustentáveis, porque a gente sabe que os produtos biodegradáveis têm menos impacto na natureza – explica Juliana.

Além disso, Juliana ressalta que a iniciativa também busca evitar custos maiores para a comunidade, oferecendo produtos com preços acessíveis para os gestores da Unidade Básica de Saúde (UBS) Walter Aita, por exemplo, que é uma parceira do colégio.

Parceiros

Além da comunidade local e escolar, a horta ainda recebe suporte de vários parceiros, como a Unidade Básica de Saúde (UBS) Walter Aita, o Colégio Politécnico da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), o grupo Mulheres em Ação, o Grêmio Estudantil do colégio, e a Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro) por meio do Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária (DDPA).

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